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Sarará Crioulo: Fora do armário, sou um gay negro, sou bicha nagô



O Em Neon sempre procurou um colunista que falasse sobre ser negro, o racismo, o preconceito e tudo que envolve esse universo. Não é, de forma alguma, um espaço segregado, mas um espaço para quem quiser falar sobre o assunto. Pouco tempo atrás encontrei o Tumblr do Ezio e mais alguns textos de negros que escrevem maravilhosamente. Foi criada então a coluna "Sarará Crioulo" para que Ezio e outros negros tenham voz e falem para todo mundo ouvir. Seja bem-vindo Ezio e quem mais vier. Vamos então ao primeiro artigo dele.

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O meu sair do armário foi duplo, me assumi gay e posteriormente negro. Sim, me assumi negro!
Você pode pensar: Como isso é possível?

Na sociedade racista em que vivemos ter a pele clara faz com que você tenha diversos privilégios, e durante anos, fui privilegiado por esse motivo. Tenho a pele clara como leite, mas meu cabelo crespo e traços reforçam minha ancestralidade a cada novo olhar.

Ancestralidade essa, que embora me acompanhe desde o momento da fecundação, nem sempre foi atuante em meus caminhos. Afinal se raspo minha cabeça, já tendo a pele clara, me enquadro num padrão que é socialmente aceitável. Desde o meu empoderamento duplo, não raspo meu cabelo não senhor! E muito menos me esforço para não dar pinta.

Esta é a minha identidade! E então, quanto mais volumoso meu black estiver, e mais pintoso eu parecer, mais próximo da minha essência eu estou! Tá meu bem?

Pode chamar de viado, frutinha, bicha e todo o resto… eu posso ser tudo isso e muito mais, vai depender do meu humor no dia. -VRA!-

Por que bicha nagô?
Acho que o primeiro nome do artigo (bicha) está justificado! Mas e agora, por que Nagô? Você já ouviu a palavra Pajubá?

Pajubá é a mistura da língua Portuguesa com tantas outras do continente Africano (kikongo, nagô, egbá, ewe, fon e yoruba são algumas delas). Essa nova língua, a principio, era usada apenas em terreiros de candomblé, e posteriormente foi ressignificada pela comunidade LGBT.

Quem vai fazer o ageum hoje? A amapoa ou o amadê? Vai me dizer que nunca ouviu nenhuma dessas palavras?

Estarei aqui Em Neon devido à necessidade de compartilhar situações cotidianas no dia de um negro gay, e também para fortalecer ideias com todos os irmãos e irmãs que ainda estão no armário (por milhares de motivos) ou que já saíram.

Estamos juntxs! Força na caminhada!

Foto: Reprodução Internet

Por: Ezio Rosa

Ezio tem 20 anos é integrante do corpo de baile do Ilú Obá de Min - Educação, cultura e arte negra, é Membro cofundador do coletivo Ijó Lewá (https://www.facebook.com/ijolewa?fref=ts), cuja missão é disseminar a cultura-afro brasileira através da dança e da musicalidade na periferia. Autor do tumblr Bicha Nagô (http://bichanago.tumblr.com/), que traz a proposta de discutir homossexualidade com o forte recorte de raça e classe. Arte-educador no Projeto “Mais Educação”, atuando na zona leste de São Paulo, onde realiza atividades voltadas à valorização da cultura afro-brasileira e à problematização de gênero e lgbtfobia entre crianças de 8 a 12 anos de idade.

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