Por toda parte o assunto hoje é carnaval ou o filme "50 Tons de Cinza". Este último eu deixo para uma próxima crônica, quem sabe, mas de Carnaval não há como fugir (ainda que eu tente bravamente).
CURTA O EM NEON NO FACEBOOK
Desde a quarta-feira de cinzas de 2014 eu já tinha amigos planejando viagens e comprando abadás para este ano. Largaram o bom velhinho sem dó nem piedade e se jogaram aos abraços do momo.
É difícil encontrar quem não goste ou não saia nos inúmeros blocos pelo Rio de Janeiro. Um amigo meu sempre fala que o carnaval é a época de se fazer tudo que tiver vontade, sem parecer ridículo. Pode até ser, mas tirando eu e mais meia dúzia que detestam, sofrem bullying e são comparados a ETs, a massa cai na folia de cabeça, sem medo de ser feliz. Muitos falam que carnaval é uma pausa para todos os problemas do ano, que mal começaram porque ainda estamos em fevereiro, e que funciona como um ponta pé inicial para o ano novo. Não dizem que o ano só começa depois do carnaval?
Carnaval de rua pra mim é impraticável - lá vem ela reclamando da vida, dos blocos e de tudo mais - Já morei em Santa Teresa, com blocos passando debaixo da minha janela e nunca cai na folia. Odeio tumulto e pra mim carnaval é uma versão de apocalipse zumbi com filme pornô. É um aglomerado de gente fedida, suada, perdida, desesperada por bebida e comida, pegando e agarrando o que vê pelo caminho e mesmo que estejam praticamente em um "The Walking Dead", ainda sentem um mega tesão, mesmo sem banho ou sem escovar os dentes.
Não podemos esquecer que pra quem está sozinho, assim como eu, carnaval é uma boa época pra se encontrar um grande amor. Quem disse essa frase? Juro que não fui eu... Quem namora no carnaval? Carnaval é a fase do ficar, sair, pegar, blocar. Todas as palavras do momento passam longe de qualquer coisa que resulte em namorar ou assumir qualquer compromisso que seja. Pronto, voltou a falar aquela desanimada, chata e pessimista da Gika. Para! Estou sendo realista minha gente.
Dia desses estava eu na praça de alimentação de um shopping aqui perto de casa e ao meu lado havia quatro meninas, que deviam ter entre 15 e 20 anos, falando dos planos para o carnaval. Elas conversavam enquanto lanchavam e combinavam quais os dias que iriam blocar e quantos iriam beijar no carnaval. Uma delas estava revoltada porque o namorado todo dia arrumava briga com ela e pediu um tempo, uma semana antes do começo da folia. Outra do quarteto, a que parecia mais jovem, falava: "Namorar? Estou fora, quem namora antes do carnaval?" E a outra retrucava: “Se ele vier com esse papo de namorar de novo vou mandar ele me procurar só depois do carnaval, não quero ser corna não, cara”.
A sensação que tenho é que quanto mais se aproxima o Carnaval, mais aversão a relacionamentos as pessoas apresentam. Difícil entender a lógica desse jogo, não? Ao passo que acaba o período carnavalesco todos estarão se apaixonando por novos pretendentes ou voltarão para aqueles antigos namorados abandonados pré-carnaval, em pleno verão escaldante. Li sobre isso em um livro muito interessante e de cultura um tanto inútil, mas que te faz rir e esquecer-se da vida chamado: "Guia do Toco". No livro esse tipo de toco é bem comum entre os homens, principalmente que querem se ver livres e soltinhos nos dias de momo. O namoro vai bem, mas o carinha começa a arrumar briga e pede um tempo para pensar na relação bem no sábado de carnaval, tendo a resposta para todas as suas dúvidas bem na quarta de cinzas. É o toco bumerangue. Já passei por isso, sei bem como é. A sensação que tenho é que pulamos o mês de janeiro e só voltássemos a ter nossas faculdades mentais, de forma plena e sadia, após os dias de folia. Nós não, eu faço parte da meia dúzia de excluídos que detestam carnaval.
E eu jogo a pergunta pra vocês: quem namora antes do carnaval? Quem estaria disposto a ter um compromisso sério e não poder “pegar geral” nos blocos de carnaval? Eu nem respondo, não conto, eu sou do tipo que adora namorar e namoraria em qualquer época.
Fotos: Nikhilmathew/Google / Reprodução
Gika é professora, blogueira, escritora, roteirista, devoradora de chocolate amargo, livros da Martha Medeiros e filmes antigos. Graduada e Mestre em Letras pela UFRJ, divide seu tempo ministrando aulas de espanhol, na manutenção do seu blog “O Fantástico Mundo de Gika" e escrevendo muitas estórias. Trabalhou como assistente de Doc Comparato com quem fez seu primeiro curso de roteiro na AICTV. Estudou também com outras feras do roteiro Fausto Galvão, Ingrid Zavarezzi e Vitor de Oliveira. Recentemente fez um curso de escrita com o escritor policial Raphael Montes e sua vontade de escrever um romance veio a tona após o curso.