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Passei dos 30, e daí? Alma de Interior


A linda paisagem de Paquetá já é vista na chegada

Hoje acordei com preguiça, como sempre acordo em qualquer domingo, seja ele chuvoso ou ensolarado. Acho que meu organismo sabe que é domingo e minha moleza natural se torna sobrenatural. Não estou aqui pra falar da minha “preguiçite” dos finais de semana, mas ao abrir o jornal de hoje, por uma hora, senti um misto de encantamento, fascinação, paz e nostalgia. Me deu uma vontade louca de vender o carro, comprar um bicicleta vintage e arrumar as malas. Acho que tenho alma de interior.

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O jornal trazia os encantos e delícias de se viver e passear por Paquetá, que fica a 40 minutos (de catamarã) do centro do Rio, mas que eu infelizmente não conheço. Moro há quase 37 anos no Rio de Janeiro, já viajei para outros estados e países e ir a um bairro a 40 minutos do centro nunca fui. Como pode uma coisa dessas? Até 3 anos atrás nem ao Cristo eu tinha ido.

Na minha burrice geográfica achava que Paquetá era uma cidade como Teresópolis, mas é um bairro e faz parte do centro do Rio.

Paquetá: Um paraíso próximo do centro do Rio de Janeiro
Lendo a matéria, não pensem que estou aqui fazendo propaganda de jornal ou de qualquer bairro, nem falei o nome do dito cujo aqui, mas a cada página lida um sentimento de abrigo, aconchego, tranquilidade ia crescendo dentro de mim. Poluição zero, tranquilidade, vista deslumbrante e somente notificações de roubo de bicicletas e brigas entre bêbados chegam à delegacia local. Não precisei pensar muito para concluir que é nesse tipo de lugar que quero morar de vez um dia. Tenho quase certeza que minha alma é do interior.

Curioso, porque quem me conhece sabe: amo cidade, gente, shopping, vida noturna, NY, Sex and the city. Por que então alguém como eu tão urbana me pego sonhando com lugares bucólicos e tranquilos assim?
Fazendo uma análise nostálgica da minha vida, vejo que as fases mais felizes dela se passaram em cidades do interior. Morei anos e anos em Teresópolis, meu primeiro salario foi trabalhando numa lojinha de lá, meu primeiro grande amor da fase adulta morava e ainda mora no interior do interior de lá (já está no segundo casamento e tem dois filhos), meu último grande amor (só na minha cabeça) também era do interior do Rio.

Hoje, cada vez mais próxima dos “enta” que dos trinta, não tenho a menor dúvida que quando me aposentar aos 51 morarei no interior. Posso rodar o mundo, conhecer lugares incríveis e modernos, mas sempre voltarei para aquela casinha branca, com uma rede na varanda, quintal arborizado, rua de chão batido, cachorro da vizinha latindo, Vinicius tocando na vitrola antiga, com um quarto repleto de estantes com livros por todas as partes e uma enorme janela com vista para serra ou para o mar.

Não tenho mais dúvidas, minha alma é de interior.

Fotos: Eduardo Moraes (www.emfotos.com.br)

Por: Gika Mendonça

Gika é professora, blogueira, trintona, doutoranda, roteirista, devoradora de chocolate amargo, livros da Martha Medeiros e filmes antigos. Graduada e Mestre em Letras pela UFRJ, divide seu tempo ministrando aulas de espanhol, estudando para pós e na manutenção do seu blog “O Mundo de uma trintona”. Trabalhou como assistente de Doc Comparato com quem fez seu primeiro curso de roteiro na AICTV. Estudou também com outras feras do roteiro Fausto Galvão, Ingrid Zavarezzi e Vitor de Oliveira.


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