Especial Jean Wyllys: Deputado ministra aula inaugural do PPGHIV/HV da UNIRIO
O deputado Jean Wyllys ministrou a aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em HIV/Aids e Hepatites Virais (PPGHIV/HV) da UNIRIO durante a manhã desta quarta-feira, 30, no anfiteatro do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG).
Sob o tema “Formas de saber, formas de adoecer: Representações linguísticas, literárias e audiovisuais da Aids”, o deputado baseou sua aula em ideias de campos como filosofia da linguagem, psicologia, teoria da comunicação, semiótica e antropologia para discutir o conceito de representação. Segundo ele, as representações nos afetam desde o útero materno, quando a gestante “conversa” com o bebê que ainda vai nascer.
Dessa forma, a apresentação de algo ausente por meio de elementos com significado está por toda parte. “É o que acontece, por exemplo, quando ouvimos um hino nacional, que, ao ser executado, representa a própria nação”, disse o deputado. Já no caso da Aids, “são produzidas representações do discurso médico”.
Terceira dimensão
Wyllys discorreu também sobre a chamada “terceira dimensão da epidemia de Aids”, que corresponderia às representações sobre a doença, e que iniciou-se depois do surgimento da epidemia viral, sobre a qual pouco se sabia, e da disseminação da epidemia. “A Aids é vista como uma doença causada não apenas pelos excessos, mas também à perversão sexual”, observou o deputado, ao falar de termos como “peste gay”, “castigo moral” e “mal do terceiro mundo”, característicos da representação de uma doença que, no começo, atingia fortemente homossexuais, profissionais do sexo e usuários de drogas.
Fazendo um paralelo com casos de diagnóstico de câncer, onde muitas vezes a família não revela a doença ao paciente enquanto na Aids o comum é o paciente não revelar a doença à família, o deputado disse acreditar que o ambiente de representações em que a pessoa vive pode contribuir para melhorar ou piorar sua saúde. “Quando as representações ruins começam a ser varridas, os pacientes respeitam melhor o tratamento”, enfatizou.
Vulnerabilidade
Wyllys também defendeu que a antiga ideia de “comportamento de risco” seja substituída pela noção de vulnerabilidade, porque o que torna uma pessoa vulnerável é mais sua posição na sociedade do que a sua responsabilidade sexual: “Comportamento é algo que pressupõe autonomia do sujeito; no entanto, muitos indivíduos em vulnerabilidade sequer tiveram acesso à educação, para saber quais são as atitudes mais ou menos arriscadas”, ressaltou.
Embora o Brasil seja uma referência no tratamento da Aids, o deputado frisou que o país fracassou na prevenção da epidemia, que atualmente tem nova onda de crescimento. Para ele, entre as causas desse fracasso estão a deficiência educacional da população, que não consegue assimilar as mensagens de prevenção; a intensificação do fundamentalismo religioso; e o impacto da terapia antirretroviral, que reduz a decadência física provocada pela doença. “A nova geração tem encarado a Aids como uma doença crônica, com a qual se pode conviver”, alertou.
Durante a ministração da sua aula o deputado salientou a importância de que o ensino universitário forme cidadãos capazes de compreender a complexidade do mundo e não apenas profissionais tecnicamente capacitados. “A universidade precisa ser mais interdisciplinar, transdisciplinar, multidisciplinar”, concluiu.
Na mesa de abertura do evento, organizado pelo professor e coordenador do PPGHIV/HV, Fernando Ferry, estiveram presentes o reitor Luiz Pedro San Gil Jutuca; o vice-reitor, José da Costa Filho; o presidente da Academia Nacional de Medicina e ex-reitor da UNIRIO, Pietro Novellino; o diretor do HUGG, Antonio Carlos Iglesias; o diretor da Escola de Medicina e Cirurgia (EMC), Agostinho Ascenção; e o diretor de Pós-Graduação, Paulo Cavalcante, representando a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PROPG).
O Programa
Essa foi a primeira aula do deputado Jean Wyllys como professor permanente do PPGHIV/HV. Wyllys visitou as instalações do Programa em Outubro de 2013 para qual alocou R$ 1 milhão por meio de emenda parlamentar destinada à compra de equipamentos para o Laboratório de Biologia Molecular. Dentre alguns dos equipamento adquiridos, encontram-se um Microscópio Olympus, no valor de R$ 174.000,00, usado para o diagnóstico de doenças relacionadas à AIDS e que também é utilizado pela Oncologia, Hematologia, Ginecologia, Cirurgia, Neurologia e qualquer outra especialidade e um sequenciador de DNA, RNA e proteínas, no valor de R$ 400.000,00, utilizado na pesquisa médica em pacientes com aids, hepatites virais, doenças genéticas, doenças neurológicas e qualquer outro que necessite.
Inaugurado no primeiro semestre de 2013, o Programa oferece um curso de mestrado profissional cuja proposta é mesclar pesquisa com assistência aos enfermos, visando à promoção de um atendimento altamente sofisticado e à formação e capacitação de médicos e outros profissionais da área da saúde.
Fonte: jeanwyllys.com.br com informações do portal unirio.br
A Redação