Mudança de Hábito: Sobre reconhecimentos
O momento social fervilha... Avanços são comemorados na mesma velocidade em que retrocessos alcançam níveis inimagináveis. Palavras antes usadas pontualmente e em seu sentido específico como “Preguiça” adquirem um tom mais amplo – Preguiça... Preguiça de pertencer à raça humana, preguiça de avançar numa lerda medida diametralmente oposta aos retrocessos. Preguiça de perceber que assim como a mentira, a covardia, inveja e egoísmo nos constitui como raça e a define em proporção alarmante.
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Toda mudança causa resistência – É natural que seja assim. No entanto, a essência das resistências, os motivos pelas quais elas são geradas no bojo de nossa sociedade, haverá de causar tristeza profunda e verdadeira em qualquer pessoa ética e amorosa com a vida.
São resistências em sua grande maioria, hipócritas, covardes e absolutamente arbitrárias. Discorda-se por tradição, por manutenção das mesmices e acima de tudo por pavor de perder a posição conseguida em benefício próprio e muitas vezes calcado em sacrifícios dos “outros”.
Quem são os “outros”? Resposta fácil: São todos aqueles que por sua condição humana deveriam merecer o respeito e acesso ao crescimento global “daqueles”... Mas que por motivos diversos e muitas vezes cruéis, não conseguiram.
Se pobre é vagabundo e faz filhos pra obter a bolsa família, se famílias homoafetivas são aberrações e se o desejo da adoção dessas famílias é um indício da deterioração da sociedade e do aumento dos fracos, se as cotas são injustas e não um mecanismo de reparação (ainda que insuficiente), por consequência quem se regula pelos padrões heterossexuais normativos haverá de sentir uma sensação de superioridade e sentirá ameaça pela possibilidade de sua perda hegemônica. Ai que preguiça, ai que desânimo!
As chamadas minorias, por etnia, religião, condição de gênero ou poder aquisitivo, ameaçam - Os discursos da mesmice se metamorfoseiam e buscam um eixo de moralidade e ética simplesmente insustentável, porque ética só se sustenta com ética. Ética presume valores universais de alteridade e igualdade. Nada que não seja assim será ético.
O que proponho com essa reflexão é vitalidade, ânimo e força contra a preguiça que às vezes toma nossa alma e que desanima o coração.
Na contabilização entre avanços e retrocessos, penso que apenas o otimismo e a fé na evolução possam desestabilizar o empate técnico entre ganhos e perdas.
Qual de nós não haverá de querer justiça, honestidade e respeito? Mas para que assim seja esses valores devem se estender a todos. Enquanto isso não acontece, uma parcela de humanos haverá de manter ânimo e resistência pacífica, mas firme – Qualquer dia, que espero não demore, haveremos de sentir orgulho pela nossa humanidade.
Foto: Reuters/Jonathan Ernst/Reprodução
Por: Ana Kiyan - CLIQUE AQUI e leia mais artigos de Ana Kiyan
Ana Kiyan é pedagoga, psicóloga, Gestalt-terapeuta, Mestre em Psicologia Clínica e Doutora em Psicologia Social pela PUC/SP. Docente na Pós-Graduação da USJT/SP e UNESP e Supervisora do Projeto de extensão Artinclusiva da UNESP. Autora de livros em psicologia, Gestart-terapia e novas condições de gênero e sexualidade.