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Moda: Alex Santos traz projeto inclusivo na comunidade Paraisópolis, o 'Periferia Inventando Moda'


O estudante de design de moda Alex Santos, 24 anos, vem desenvolvendo um trabalho social significativo na comunidade Paraisópolis (com cerca de 100.000 habitantes), em São Paulo. Nele, Alex é idealizador do “Periferia Inventando Moda”, um projeto inclusivo feito na comunidade para os moradores trabalharem com a postura e a autoestima para o mercado da moda. Em parceria com o estilista João Pimenta, o projeto vem conquistando espaço, ganhando adeptos e simpatizantes assim como conquistando a mídia em geral.

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Antenados na diversidade cultural proposta por Alex, entramos em contato com o jovem estilista para sabermos mais sobre o “Periferia Inventando Moda”. Confira abaixo:

Em Neon: Você estudou moda? 
Alex Santos: Estou terminando design de moda na Universidade Anhanguera. Mas meu interesse por moda é anterior a faculdade.

EN: Trabalhou com moda antes da faculdade?
AS: Não. De uma certa forma nem agora trabalho com moda, meu trabalho é principalmente social. Apesar do que dizem sobre o crescimento do mercado da moda, nós sabemos que é um mundo muito restrito. Considero meu trabalho como quebra de barreiras.


EN: Quem está por trás do “Periferia Inventando Moda”?
AS: Eu e meu marido fazemos tudo. Juntos fazemos toda produção e preparação do evento que conta com desfiles, editoriais e o workshop de modelo. Eu trabalho com tudo que envolve moda e criação: Sou estilista, instrutor de passarela, consultor de  estilo, faço a preparação das modelos, concepção artística dos eventos, styling, produção dos editoriais e contato com os estilistas.  O Nilson ajuda no desenvolvimento pessoal e grupal das modelos, dá oficinas de postura e consciência corporal, que as modelos gostam muito, e ajuda no contato com os parceiros e nas questões burocráticas.

EN: Esse Workshop é patrocinado por alguém?  
AS: Já estamos há um ano com esse projeto e não temos nenhum patrocínio. O workshop e o evento com os desfiles são feitos no CEU (Centro Educacional Unificado) Paraisópolis.

EN: Como nasceu a ideia desse projeto?
AS: Sempre tive desejo de fazer um projeto de moda na comunidade, a gestão do CEU sempre me estimulava a fazer isso. Em abril de 2014, fui ao desfile do João Pimenta no CEU MENINOS, então tive a ideia de realizar um evento de moda na comunidade, com estilistas conhecidos e estrelado por modelos selecionados na comunidade. Para a próxima edição vamos trazer alguns estilistas novos para serem lançados no mercado. E estamos também montando uma agência de modelos para revelar talentos da comunidade, com custos acessíveis e que ofereça oportunidades reais de trabalho. Há muita exploração neste meio. Queremos fazer algo para mudar isso.

EN: Tem mais meninas ou meninos entre os modelos aspirantes?
AS: Mais meninas. Bem mais.

EN: Porque há essa resistência dos rapazes?
AS: Falta de conhecimento. Como tem mais modelos femininas, que se destacam no mundo da moda, fica a ideia que ser modelo é só para mulheres.

EN: Qual a importância do João Pimenta no projeto?
AS: O João foi o primeiro a aceitar o convite. Sem o desfile e os editoriais dele na comunidade não teríamos a visibilidade que temos agora.

EN: Foram quantas edições do “Periferia Inventando Moda”? Qual a data da próxima edição?
AS: Foram duas edições. A primeira foi dia 14 de junho de 2014, na qual houve desfiles do João Pimenta, dos alunos da Universidade Anhanguera e da ONG Florescer. Foi apresentada pela Dindry e o lounge e ambientação foram feitas pelo DJ Pomba. A segunda edição foi dia 30 de Novembro de 2014 na qual houve desfiles do Rober Dognani, Felipe Fanaia e o meu primeiro desfile, com o tema “África: Selva Urbana”. A terceira edição acontecerá no dia 18 de Agosto de 2015 e estamos fechando Line Up. Com certeza teremos figurões da alfaiataria nacional, o meu segundo desfile, que será inspirado no musical “Mamma Mia” e vamos lançar dois ou três estilistas novos.

EN: Como o projeto está agindo na autoestima da população de Paraisópolis?
AS: É fantástico. Isso nos surpreendeu. O Nilson, meu marido, como psicológo, sempre colocou a autoestima como um dos objetivos do projeto. Mas o resultado foi surpreendente até para nós. Modelos do workshop não cansam de dizer como mudou a sua forma de se vestir, a sua relação com a imagem e isso é visível em nosso registro fotográfico. Se você olhar a diferença de quando elas chegaram até agora, a mudança salta aos olhos.

EN: Como sua família recebeu essa sua participação marcante dentro da comunidade?
AS: Minha família veio do interior de Pernambuco, meu pai e meus irmãos apoiam bastante em tudo que faço. Já minha mãe, fica muito feliz também, mas com certa desconfiança. Para uma mulher que enfrentou a seca, ela tem dificuldade de ver o que faço como trabalho. Ela não deixa de ter razão, pois há muito deslumbramento com o glamour do mundo da moda. Saber minhas origens me deixa mais focado.

EN: Houve alguma resistência por parte dos moradores? Preconceito?
AS: Não. Já trouxemos a Drag Queen Dindry Buck, a Silvetty Montilla e outras Drags da região. A recepção foi sempre muito positiva. Existe sim muito preconceito na comunidade, mas essas pessoas geralmente não gostam de moda.

EN: Qual foi a participação da Dindry e da Silvetty?
AS: A Dindry apresentou a primeira edição. Ela também participou de um evento promocional para o dia das crianças. A Silvetty, que veio em um dos nossos eventos promocionais. Elas vieram graças ao Dj Pomba. Que é o nosso parceiro desde o começo do projeto. Ele foi a primeira pessoa para quem contamos a ideia. Ele se ofereceu a enviar convites para os estilistas que ele conhecia para a primeira edição. Foi nessa que o João Pimenta aceitou e tudo começou.

EN: E essa exposição, me fale um pouco dela
AS: Essa exposição foi uma iniciativa da SPFW. A partir do editorial que o João fez, com o fotógrafo Gleeson Paulino, no dia em que ele veio para o desfile. Ele pegou três rapazes, as roupas e, juntamente com o fotógrafo, saíram na comunidade. O resultado ficou lindo.


EN: A próxima novela das 19h da Globo, “I Love Paraisópolis” falará da comunidade, você acha importante uma novela abordar a sua comunidade?
AS: Não sei. Prefiro pensar em como a comunidade reagirá ao se ver retratada na novela. Será que as pessoas vão despertar para alguma coisa? Como a campanha que está acontecendo pela retomada das obras de urbanização. A novela serviu para despertar essa consciência da população. Agora, como a novela é uma obra de ficção o Paraisópolis que aparecerá lá não será o Paraisópolis real. Mas estamos ansiosos para vê-la. O povo está comentando muito.

EN: Mas a produção e até os autores pesquisaram e até conheceram a comunidade, para trazerem certa veracidade á ficção, isso pode ser bom para Paraisópolis, ou não?
AS: É bom para fortalecer a identidade e autoestima da população. Nesse sentido é positivo sim. Principalmente quando vemos que serve também para a população lutar pelo seus direitos. Acho que por esse lado a novela fortalece a identidade da comunidade.

O Em Neon agradece Alex Santos pela entrevista e desejamos boa sorte na terceira edição do "Periferia Inventando Moda", que acontecerá no dia 18 de Agosto de 2015.

Fotos: Túlio Vidal e arquivo de Alex Santos

Por: Eduardo Moraes - CLIQUE AQUI e leia mais artigos de Eduardo Moraes.

Eduardo Moraes é jornalista formado pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) além de fotógrafo há 15 anos. Em seu curriculum estão o Jornal e Site Abalo, a Exposição O "T" da Questão e o Livro Avesso - Meu Lado Certo. Atualmente é editor-chefe do site www.EmNeon.com.br
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