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Comportamento: Vogue Kids promove triste adeus à inocência


Em caráter liminar, a Justiça pediu a suspensão da distribuição e a retirada da Vogue Kids de setembro das bancas

Tenho uma irmã de sete anos de idade, pela qual tenho extremo amor e carinho. Graças a isso observo todo o universo infantil com mais atenção, pensando e querendo o melhor para a minha pequena. Sempre gostei de crianças e animais, viro praticamente um infantiloide quando me deparo com algum desses seres tão bem desenhados por Deus e que alegram o mundo. Por isso mesmo tudo o que fere, interfere ou prejudica esses seres iluminados me deixa completamente fora de mim.

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Ontem minha sogra me mostrou um encarte que veio juntamente com a revista Vogue de setembro, destinada à moda infantil. Estava eu todo faceiro olhando as roupas e imaginando a minha princesa toda linda nos modelitos que estavam na revista. Eis que, de repente, algo me estarreceu. Em um ensaio intitulado “sombra e água fresca”, com fotos e edição de duas mulheres, me deparo com imagens praticamente erotizadas de meninas. Olhei, olhei, olhei novamente para ver se não era uma impressão errada minha, mas nada me tirava a má impressão. Imaginei minha irmã no lugar das garotas fotografadas. Me irritei, me incomodei, me veio um bolo no estômago, um mal estar que me deu vontade de vomitar. Ainda não acreditava no que via naquela revista, que a meu ver, é bem conceituada. Seria modernidade, sinais dos tempos ou realmente um adeus à inocência?

Respirei fundo e fui ver a opinião de outras pessoas... Sogra, cunhado e marido tiveram a mesma impressão. Juro  que não influenciei ninguém a pensar nada, apenas pedi para que olhassem o ensaio e foi unânime: todos acharam erotizado demais.

A revolta que me deu foi em perceber que um pedófilo que olhasse a revista teria o mesmo excitamento de um cara que folheasse uma revista Playboy, embora essa não trouxesse as garotas nuas, mas... Esse incômodo durou horas. Me perguntava se teria sido inocência das produtoras do tal ensaio. Voltei para ver melhor e não julgar ninguém desmerecidamente. O artigo diz: “As papetes e Birkenstocks que são febre atual na moda adulta invadem o guarda-roupa infantil, ao lado de tricôs levinhos, camisaria, jeans e meias – look perfeito para tardes preguiçosas à beira mar.” Lamentei. Me perguntei se o tal “sinal dos tempos” roubou das crianças o sentido real da infância, tornando adultas meninas indefesas, aspirando seus ares pueris e transformando-as em mulheres antes do tempo. Me remeti ao passado onde meninas dançavam na boquinha da garrafa... Minha princesa nem tinha nascido e aquilo já me enojava. Lembrei ainda meninas que na minha infância eu via pulando amarelinha ou corda e que hoje em dia dançam um funk erotizado de músicas de duplo sentido ou escancaradamente eróticas. Não estou querendo ser moralista com Tchans ou funks da vida, mas é impossível não estarrecer diante de meninas-mulheres antes do tempo.

Poderão dizer que não sou pai e que por ser gay não deveria meter a mão em cumbuca. Tudo bem, eu não sou pai, mas sou um irmão que se preocupa com sua pequena maninha e sofre ao pensar, desde já, o que o futuro trará para ela. Vê-la brincando de boneca, assistindo desenhos infantis e rindo das coisas mais bobas. Penso que, erroneamente, muita gente aponta os homossexuais como pedófilos e ao ver em uma revista, que deveria apenas mostrar roupas infantis, algo que incitaria o mais “inocente” dos pedófilos, realmente me revolto. Se errei em pensar maldades do ensaio, se fui perverso em achar erotismo no que “tentaram” mostrar com inocência, que atire a primeira pedra aquele que não ver “maldade” nas fotos da revista. Sei que cabe a cada um fazer seu próprio julgamento. A mim coube a indignação. Espero que a Vogue perceba a gafe e que as crianças sejam vistas, vestidas, tratadas e retratadas como crianças.

Ao acabar de escrever esse artigo, fui pesquisar fotos da revista para ilustrar a matéria e foi então que percebi que a indignação não era só minha, que pessoas já haviam feito denúncias e que a Justiça determinou o recolhimento da Vogue Kids número 22. Que sensação de alívio. Lamento pela revista Vogue, mas a leveza de minha alma não tem preço.

Para ser justo e não apenas apontar os erros, segue abaixo nota enviada pela revista Vogue à redação do R7, ao se defender das acusações:
"A Vogue Brasil, responsável pela publicação de Vogue Kids, em razão de recentes discussões em redes sociais envolvendo a última edição da revista, mais especificamente o ensaio de moda intitulado “Sombra e Água Fresca”, vem esclarecer que jamais pretendeu expor as modelos infantis a nenhuma situação inadequada. Seguimos princípios jornalísticos rígidos, dentre os quais o respeito incondicional aos direitos da criança e do adolescente. Como o próprio título da matéria esclarece, retratamos as modelos infantis em um clima descontraído, de férias na beira do rio. Não houve, portanto, intenção de conferir característica de sensualidade ao ensaio. Respeitamos a diversidade de pontos de vista e iremos nos aprofundar no entendimento das diversas vozes nesse caso, buscando o aperfeiçoamento das nossas edições. Repudiamos, porém, as tentativas de associar a Vogue Kids ao estímulo de qualquer prática prejudicial aos menores. Lamentamos que o açodamento e a agressividade imotivada de algumas pessoas tenham exposto desnecessariamente as menores que participaram do ensaio, que são nossa maior preocupação nesse episódio. A missão da Vogue Kids foi e continuará a ser a de tratar a infância com o respeito que ela merece, abordando com respeito e sensibilidade questões contemporâneas e que vão muito além dos editoriais de moda."

Por: Eduardo Moraes

Eduardo Moraes é jornalista formado pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) além de fotógrafo há 15 anos. Em seu curriculum estão o Jornal e Site Abalo, a Exposição O "T" da Questão e o Livro Avesso - Meu Lado Certo. Atualmente é editor-chefe do site www.EmNeon.com.br

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