Obaluaiyê : Rei e Dono/Senhor da terra. |
Em agosto os terreiros de Candomblé costumam realizar uns dos mais tradicionais festejos da religião. Chamado de Olubaje e traduzido como “O Senhor aceita comer!”, é um ritual destinado ao Orixá Obaluaye.
Obaluaiyê quer dizer "rei e dono/senhor da terra" sua veste é a palha que esconde o segredo da vida e da morte. Está relacionado a terra quente e seca, como o calor do fogo e do sol - calor que lembra a febre das doenças infecto-contagiosas. Ele é aquele que pune os malfeitores e insolentes enviando-lhes a varíola.
Segundo o mito, Obaluaiê é filho de Nanã e Oxalá, tendo nascido cheio de feridas e de marcas pelo corpo como sinal do erro cometido por ambos, já que Nanã seduzira Oxalá, mesmo sabendo que ele era marido de Iemanjá.
Ao ver o filho feio e malformado, coberto de varíola, Nanã o abandonou à beira do mar, para que a maré cheia o levasse. Iemanjá o encontrou quase morto e muito mordido pelos peixes, e, tendo ficado com muita pena, cuidou dele até que ficasse curado. No entanto, Obaluaiê ficou marcado por cicatrizes em todo o corpo e eram tão feias que o obrigavam a cobrir-se inteiramente com palhas. Não se via de Obaluaiê senão suas pernas e braços, onde não fora tão atingido. Aprendeu com Iemanjá e Oxalá como curar estas graves doenças. Assim cresceu Obaluaiê, sempre coberto por palhas, escondendo-se das pessoas, taciturno e compenetrado, sempre sério e até mal-humorado.
Um dia, caminhando pelo mundo, sentiu fome e pediu às pessoas de uma aldeia por onde passava que lhe dessem comida e água. Mas as pessoas, assustadas com o homem coberto desde a cabeça até os pés com palhas, expulsaram-no da aldeia e não lhe deram nada. Obaluaiê, triste e angustiado, saiu do povoado e continuou caminhando pelos arredores, observando as pessoas. Durante este tempo, os dias esquentaram, o sol queimou as plantações, as mulheres ficaram estéreis, as crianças cheias de varíola e os homens doentes. Acreditando que o desconhecido coberto de palha amaldiçoara o lugar, imploraram seu perdão e pediram que ele novamente pisasse na terra seca. Ainda com fome e sede, Obaluaiê atendeu ao pedido dos moradores do lugar e novamente entrou na aldeia, fazendo com que todo o mal acabasse. Então foi alimentado pelos homens e lhe deram de beber, rendendo-lhe muitas homenagens. Foi quando Obaluaiê disse que jamais negassem alimento e água a quem quer que fosse, tivesse a aparência que tivesse. E seguiu seu caminho.
Chegando à sua terra, encontrou uma imensa festa dos orixás. Como não se sentia bem entrando numa festa coberto de palhas, ficou observando pelas frestas da casa. Neste momento, Iansã, a deusa dos ventos, o viu nesta situação e, com seus ventos levantou as palhas, deixando que todos vissem um belo homem, já sem nenhuma marca, forte, cheio de energia e virilidade. E dançou com ele pela noite adentro. A partir deste dia, Obaluaiê e Iansã se uniram contra o poder da morte, das doenças e dos espíritos dos mortos, evitando que desgraças aconteçam entre os homens.
A pipoca é comida preferida de Obaluaye e é oferecida ao Orixá a fim de nos livrar das pragas, doenças e males do corpo e da alma.
“Atotô!” é a sua saudação. Trata-se de um clamor de silêncio para não atrair a ira do rei.
Segunda-feira é o seu dia e suas cores são preto, branco e vermelho.
Que Obaluaye nos livre de todo mal que há na terra, nos cure e nos dê saúde e vida longa!
Por: Káriláde
Káriláde - Sacerdote de Orixá, pesquisador e membro do CETRAB - Centro de Tradições Afro-brasileiras. Terça: dia da Vitória na cultura Iorubá.