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Melão Em Neon: De que é feita uma 'História de amor'?


Carlos e Helena os personagens protagonistas de História de Amor

Para cativar o público, uma história, nem sempre, necessita de tramas mirabolantes, situações rocambolescas ou altas peripécias recheadas de criatividade e ineditismo. Aliás, nada disso adianta se uma história não tiver o básico: bons personagens. Eles, sim, são a base de qualquer história. Partindo desse princípio, Manoel Carlos escreveu em 1995, para o horário das 18 horas, uma de suas novelas mais simpáticas e populares: “História de amor”, cuja reprise (imperdível!), atualmente, está em exibição no Canal Viva.

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O título não poderia ser mais simples e sugestivo. Maneco não apresentava nada de novo no front da zona sul carioca. Ao contrário, o autor se utilizou dos bons e velhos elementos do folhetim para narrar o cotidiano da batalhadora Helena (Regina Duarte, excelente como sempre), uma mulher de carne e osso, parecida com tantas outras Helenas, Marias e Reginas de nosso país. Mulher de meia-idade, separada do primeiro marido, que luta para criar a filha, a voluntariosa Joyce (Carla Marins), grávida de um namorado que se recusa a assumir a criança.

Em meio aos dilemas da filha, problemas financeiros e dificuldades de relacionamento com o ex-marido, Helena se envolve com o rico e charmoso médico Carlos Moretti (José Mayer), casado com a mimada Paula (Carolina Ferraz) e que ainda desperta a paixão da dissimulada ex-namorada Sheila (Lilia Cabral). Como se vê, nada de muito criativo ou original. Um homem disputado por três mulheres diferentes. Entre muitas idas e voltas, encontros e desencontros, mal-entendidos e desilusões, Helena e Carlos, enfim, conseguem viver sua história de amor sob a bela paisagem da cidade maravilhosa.

Mas o que torna “História de Amor” tão atraente? Confesso que, quando o Canal Viva anunciou a reprise, não me animei. Não porque não gostasse da novela, mas justamente porque já tinha assistido duas vezes. Mas a novela tem um veneno que te pega, te prende e não te solta mais até o último capítulo. O que mais me atrai, além do texto maravilhoso e das ótimas atuações, é justamente a construção dos personagens, distantes de qualquer maniqueísmo, humanos, falhos, complexos, como qualquer um de nós. Resultado: me viciei novamente e não perco um capítulo. Se você ainda não se ligou na reprise, garanto que, com uma única zappeada, também vai ficar completamente envolvido.

Vitor de Oliveira, um apaixonado por Helena e Regina Duarte 
Afinal, o que tem Helena de especial que tanto atrai Carlos, acostumado com mulheres requintadas e sofisticadas como Paula e Sheila? Justamente, a simplicidade. Talvez a Helena de “História de amor” seja a Helena mais “gente como a gente”, que reclama do preço dos legumes na feira, que faz as contas pra saber se o dinheiro vai dar até o final do mês, que curte tomar uma cervejinha com os vizinhos e que defende a filha como uma leoa. Uma mulher comum, como definiu a rival Paula. Por isso mesmo, é impossível não se apaixonar por Helena e não torcer para que ela seja feliz. Assim como a protagonista, há outros personagens igualmente cativantes como a melhor amiga dela, a sofrida Marta (Bia Nunnes), às voltas com um câncer de mama e a instabilidade do marido, o gaiato Xavier (Ricardo Petraglia); Dona Olga, vivida pela saudosa Yara Cortes, avó de Carlos, matriarca que conduz a família com firmeza e doçura, sempre com um comentário ácido na ponta da língua. Quem não queria ter uma avó como Olga? Ou uma tia como a divertida Zuleika (Eva Wilma), socialite falida, “cada vez mais down no high society”, que precisa começar a trabalhar para reconstruir a vida?

Com simplicidade, as tramas vão sendo apresentadas e, sorrateiramente, vão envolvendo o espectador de tal forma que ele não resiste e liga a tevê naquele horário para continuar acompanhando o cotidiano e torcendo pela felicidade daquelas adoráveis pessoas que entram na sua sala. Somos todos Carlos, envolvidos e apaixonados pela simplicidade cativante de Helena. Este é o segredo de uma boa novela: envolver o espectador com bons personagens e uma trama saborosa, seja uma iguaria finíssima ou o bom e velho feijão com arroz muitíssimo bem temperado, como é o caso. E, claro, uma bela e apaixonante “História de amor”...

Por: Vitor de Oliveira

Vitor é Roteirista, escritor, professor e dramaturgo. Criador do blog “Eu prefiro melão”, um dos pioneiros a publicar textos de conteúdo próprio voltado para o universo da teledramaturgia, que deu origem ao seu primeiro livro “Eu prefiro melão – melhores momentos de um blog televisivo”. Colaborador da nova versão de “O astro” (2011), novela de Janete Clair, adaptada por Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, premiada com o “Emmy Internacional”. Atualmente, é um dos roteiristas de “Lady Marizete”,  novela das 19 horas da Rede Globo, prevista para 2015. No cinema, foi roteirista dos curtas “Corra, Biba, Corra”, “Metade da Laranja”, “12 horas" e "A Maldição da Rosa". Autor de três peças de teatro: “O que terá acontecido a Nayara Glória?”, “Mãe” e do infantil “A bola mágica”.
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